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Mais de 300 aviões chineses voaram perto de Taiwan desde a visita de Nancy Pelosi

F-16 Taiwan ROCAF H-6 China PLAAF

A visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara de Representantes dos EUA, gerou um aumento na crise entre Estados Unidos, China e Taiwan. Como resposta ao que vê como uma afronta estadunidense, Pequim lançou uma série de exercícios militares, principalmente com suas forças aéreas e navais do seu Exército de Libertação Popular (PLA).

Desde terça-feira (02), quando Pelosi pousou em Taipé, até a manhã desta segunda-feira (08), 316 aviões da China já haviam voado pelo Estreito de Taiwan como parte dos exercícios. Destes, 126 voaram além da Linha Mediana, uma marcação no meio do Estreito e que, para Taiwan, divide seu território com o dos chineses.

Shenyang J-16 China Flares
Caça Shenyang J-16 da China disparando flares. Foto: PLAAF.

Os dados, compilados pelo AEROFLAP, são do Ministério da Defesa Nacional de Taiwan (MnD), que há dois anos reporta quase diariamente as incursões de aviões do PLA em sua Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ na sigla em inglês).

Falando à CNN Portugal, o especialista em diplomacia e estudos asiáticos Tiago Ferreira Lopes explica que a Linha Mediana “surge em 1954, quando é assinado o tratado de defesa mútua entre os EUA e Taiwan”. O tratado foi abandonado em 1979, quando os EUA retomaram as relações diplomáticas com a China. “Interessou aos EUA que, durante toda a segunda metade da Guerra Fria, esta linha desaparecesse e ela só foi retomada a partir de 1992, como resposta ao Massacre de Tiananmen, que ocorreu em 1989”, diz Tiago.

Imagem: CNN Portugal.

Pequim disse que os exercícios seriam realizados entre quinta-feira e domingo. No entanto, a última incursão detectada pelo MnD, nesta manhã, registrou 39 aeronaves, com 20 jatos de combate e um helicóptero voando além da Linha Mediana. 

A maior manobra aérea do tipo foi registrada na quinta-feira, com 68 aeronaves, incluindo caças J-10, J-11, J-16, Sukhoi Su-30 e aeronaves Y-8 de guerra eletrônica e antissubmarino. Esta incursão também marcou o recorde de aviões chineses dentro da ADIZ taiwanesa. Até este movimento, a maior manobra era a de outubro de 2021, com 56 aviões em um só dia.

O MnD afirma que, em todas as manobras da China, respondeu com o envio de aeronaves de caça para Patrulhas Aéreas de Combate (CAP), avisos de rádio e acionamento de sistemas de defesa aérea para acompanhar a movimentação. 

A ida de Pelosi foi o motivo para o aumento das tensões entre os países, bem como o gatilho para uma das maiores demonstrações de poder da China nos últimos anos. As relações entre EUA e China pioram significativamente durante a administração de Donald Trump, quando os dois países passaram a travar uma guerra comercial. 

Tiago observa que a invasão da Rússia na Ucrânia abre uma porta para Xi Jinping pôr em prática a política de “China Única”. O apoio chinês à Moscou em sua ação contra a Ucrânia alimentou especulações sobre as intenções de Pequim em relação a Taiwan, levantando questões sobre como o mundo reagiria se a China lançasse um ataque.

A ilha de Taiwan é vista pela China como um território rebelde que deve ser reanexado através dessa política. Toda e qualquer demonstração de independência por parte de Taiwan é combatida pelo vizinho com demonstrações militares no Estreito de Taiwan. As ameaças de uma invasão à ilha são constantes.

Caça aviões de caça Taiwan ROCAF pilotos
Pilotos de caças F-16V da Força Aérea de Taiwan (ROCAF) corem para seus aviões durante um treinamento. Foto: I-Hwa Cheng/Bloomberg.

Ao mesmo tempo, a maior parte dos países não reconhecem Taiwan como uma nação independente, mesmo tendo suas próprias forças armadas, moeda e constituição, o que também desfavorece os taiwaneses. 

O que é uma ADIZ

O MND costuma relatar incursões quase diárias de aeronaves da China na sua ADIZ, que normalmente envolvem até cinco ou sete aparelhos. Por isso, números tão altos como os vistos nos últimos dias chamam atenção.

No entanto, é importante destacar que apesar desta ações serem provocativas, a China não violou o espaço aéreo de Taiwan em nenhum momento.

ADIZ Taiwan China 08/08
Incursão da Força Aérea Chinesa no dia 08/08. O retângulo preto marca a ADIZ de Taiwan e é possível observar que a zona cobre parte do território chinês. Imagem: MnD de Taiwan.

Uma Zona de Identificação de Espaço Aéreo (também chamada de ZIDA na sigla em português) é uma determinada porção de espaço aéreo sobre água ou terra firme. A zona é estabelecida como uma região onde a identificação e acompanhamento de aviões civis e, principalmente, militares é ordenada pelos órgãos de algum país.

As zonas se estendem além do espaço aéreo soberano de uma nação e servem para antecipar uma possível incursão contra seu espaço aéreo. Dessa maneira, as forças militares podem acionar seus meios de defesa (caças e mísseis antiaéreos) antecipadamente.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Militar, Notícias, Notícias

Tags: China, EUA, Taiwan, usaexport