No final de dezembro o Comando dos Estados Unidos no Indo-Pacífico (USINDOPACOM) denunciou o que chamou de “manobra insegura” por parte de um caça da Marinha da China durante uma interceptação, gravada dias antes.
Nas imagens, divulgadas em 29/12 e registradas em 21/12, um caça Shenyang J-11B da Marinha do Exército de Libertação Popular (PLAN) está voando ao lado da aeronave norte-americana, um avião-espião RC-135 Rivet Joint. O caça chinês é visto voando à esquerda do RC-135, mas começa a se direcionar para a direita, cortando a frente do avião da Força Aérea dos EUA (USAF).
“O piloto da PLAN realizou uma manobra insegura ao voar na frente e a 20 pés [cerca de 6 metros] do nariz do RC-135, forçando o RC-135 a fazer manobras evasivas para evitar uma colisão”, diz o INDOPACOM em nota, afirmando ainda que o avião-espião “conduzia legalmente operações de rotina sobre o Mar da China Meridional em espaço aéreo internacional.”
Mais tarde a própria China divulgou imagens da interceptação, gravadas de dentro do J-11.
南部战区公布歼11BSH视角 pic.twitter.com/OCH8ptqVUo
— lqy🇨🇳 (@lqy99021608) December 31, 2022
Em comunicado, o coronel Tian Junli, porta-voz do Comando Sul do PLA, disse que as declarações dos EUA “desconsideraram a verdade e são pura calúnia e exagero.” Segundo Pequim, o RC-135 conduzia missões de reconhecimento ao sul da costa das ilhas de Ilhas Xisha de Hainan.
Apesar dos vários avisos por rádio, o avião dos EUA teria manobrado perigosamente para a esquerda, contra o avião chinês. Isso, segundo o Coronel Tian, “comprometeu seriamente a segurança de voo da aeronave militar chinesa, violando severamente as Regras de Conduta para Segurança de Encontros aéreos e marítimos entre a China e os EUA, bem como leis e práticas internacionais relacionadas.”
Esse é caso mais recente de uma série de interceptações que os EUA e seus parceiros denunciaram como inseguras. Em junho do ano passado, Canadá e Austrália também reclamaram oficialmente sobre a conduta de Pequim em suas escoltas aéreas.
No entanto, o episódio mais famoso, conhecido por Incidente da Ilha de Hainan, aconteceu há quase 22 anos. Na ocasião, um caça J-8II Finback-B, também da PLAN, colidiu num turboélice EP-3E ARIES II da Marinha dos EUA durante uma interceptação.
O avião chinês caiu no mar, e seu piloto jamais foi encontrado. Já o P-3 norte-americano fez um pouso de emergência na ilha chinesa de Hainan. Os 24 tripulantes foram presos e interrogados pelos militares chineses, sendo liberados 10 dias depois. O avião foi desmontado e levado aos EUA a bordo de um An-124 russo meses depois.
Mas voltando ao caso atual. O J-11B, uma versão chinesa do Su-27UB russo, é visto armado com quatro mísseis: dois PL-8 de curto alcance (versão chinesa do Python 3 israelense) e dois PL-12 de médio alcance, similares ao AIM-120 AMRAAM dos EUA.
A interceptação perigosa também ocorre dentro de um contexto geopolítico muito mais amplo, onde a China reclama para si mesma uma enorme porção do Mar da China Meridional, por onde passam quase US$ 3 trilhões em comércio todos os anos.
Dessa forma, Pequim tem militarizado a região com a construção de ilhas artificiais, bem como a constante presença de navios e aeronaves de combate. Washington e seus aliados, que não reconhecem as reivindicações chinesas, também respondem com o envio de aviões e embarcações para impor o direito de livre navegação.
“A Força Conjunta Indo-Pacífico dos EUA é dedicada a uma região livre e aberta do Indo-Pacífico e continuará a voar, navegar e operar no mar e no espaço aéreo internacional com o devido respeito pela segurança de todas as embarcações e aeronaves sob a lei internacional. Esperamos que todos os países da região do Indo-Pacífico usem o espaço aéreo internacional com segurança e de acordo com a lei internacional”, conclui o USINDOPACOM.
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