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O F-5 pode pousar em porta-aviões?

Gancho de cauda do caça F-5 Tiger II

“O F-5 pode pousar em porta-aviões?” O título da matéria pode causar espanto em alguns, mas acredite ou não, é uma dúvida frequente de uma boa parte de nossos leitores. Também é comum ver algumas discussões sobre o tema nas redes sociais, e o lançamento do filme Top Gun: Maverick, em maio também fez o assunto “ressurgir”.

A razão por trás da pergunta é até bem simples: o F-5, assim como uma série de outros caças, possui um gancho de cauda. O dispositivo é, em partes, similar ao encontrado em caças navais, como o F/A-18 Super Hornet, o J-15 chinês e o lendário F-14 Tomcat. No entanto, o gancho de cauda dos aviões convencionais é bem diferente dos navais. 

Caça F/A-18 Super Hornet capturando o cabo de aço do porta-aviões com o gancho de cauda. Foto: Marinha dos EUA.
Caça F/A-18 Super Hornet capturando o cabo de aço do porta-aviões com o gancho de cauda. Foto: Marinha dos EUA.

Nas aeronaves embarcadas, o gancho serve para “pescar” um dos três ou quatro cabos de aço que atravessam a pista de pouso de um porta-aviões, desacelerando a aeronave em uma distância curtíssima. Para isso, não só o gancho, mas a estrutura da aeronave como um todo precisam ser preparadas para aguentar os verdadeiros “acidentes controlados” que são os pousos embarcados, algo pensado desde a concepção do projeto do avião naval.

No caso dos aviões que operam nas quilométricas pistas de bases e aeroportos, o gancho de cauda é usado exclusivamente em pousos de emergência. O princípio é o mesmo: capturar um cabo estendido sobre a pista. No entanto, o pouso em terra é muito, senão completamente, diferente do procedimento num navio aeródromo. 

Além do F-5, caças como F-15, F-16, AMX, Eurofighter Typhoon e até o F-35 de 5ª Geração possuem o gancho para pousos de emergência. Com essa explicação, voltamos à pergunta inicial: o F-5 pode pousar em porta-aviões, em uma situação hipotética de emergência por exemplo? A resposta curta é não, mas existe um porém. 

Recentemente o Capitão André Justo, piloto de F-5 da Força Aérea Brasileira, publicou em seu canal Aviação de Caça Brasileira um vídeo do simulador DCS World, pousando um F-5E no porta-aviões russo Almirante Kuznetsov. Não só isso, ele também decolou do navio. Cabe destacar que apesar do DCS estar entre os mais avançados simuladores de aviação disponíveis, ainda é, de qualquer forma, um jogo. 

Na vida real, isso possivelmente teria consequências catastróficas. Como mencionado anteriormente, a estrutura de um avião naval são preparadas para aguentar as duras condições das operações embarcadas. O F-5, no entanto, jamais foi pensado para fazer esse tipo de coisa, o que poderia ocasionar em sérios danos estruturais à aeronave, especialmente no conjunto do trem de pouso, que em aviões navais está entre os componentes mais reforçados justamente para absorver o impacto no pouso.

Há quatro anos, durante o Exercício CRUZEX 2018, um F-5EM da FAB fez um pouso duro na Base Aérea de Natal. A “pancada”, mais leve que a de um pouso embarcado, foi suficiente para quebrar os trilhos das pontas de asa, onde são encaixados os mísseis ar-ar de curto alcance. 

Então, não, o F-5 não seria capaz de pousar em um porta-aviões. No entanto, alguns F-5 já embarcaram em um navio do tipo em uma ocasião especial. 

Com o fim da Guerra do Vietnã, vários militares do Vietnã do Sul fugiram com aviões fornecidos pelos Estados Unidos, incluindo uma série de caças F-5E Tiger II. Em 1975, após a retirada dos EUA na Operação Frequent Wind, o porta-aviões USS Midway foi carregado com caças F-5, jatos de ataque A-37, monomotores Cessna Bird Dog e helicópteros Chinook, Sea King e Huey, quase 140 aeronaves que estavam na Tailândia para evitar a captura pelo lado comunista. Helicópteros Sea Stallion carregaram as aeronaves ao porta-aviões, que então partiu para a base dos EUA em Guam, no Oceano Pacífico. 

O porta-aviões USS Midway lotado de aviões, incluindo os F-5, após o "resgate" na Tailândia.
O porta-aviões USS Midway lotado de aeronaves, incluindo os F-5, após o “resgate” na Tailândia. Foto: Marinha dos EUA.

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias