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Conheça cinco versões especiais do Boeing 747, a Rainha dos Céus

Avião-tanque, bombeiro e até telescópio. Conheça cinco diferentes versões do Boeing 747, a Rainha dos Céus.

O Boeing 747 é, sem dúvidas, uma das aeronaves mais icônicas da história, facilmente reconhecida por qualquer lugar que passe. Sua produção ininterrupta de 54 anos se encerrou agora em dezembro, mas ao longo dos anos a “Rainha dos Céus” não atuou apenas como jato comercial ou cargueiro. 

Na verdade o Jumbo Jet, que já foi o maior avião do mundo, atuou em diferentes segmentos e teve diversas versões para atender as mais variadas necessidades. Nesse artigo especial vamos conhecer cinco desses 747 incomuns. 

KC-747. O avião-tanque que não deu certo.

Os reabastecedores, mais chamados de aviões-tanque, estão entre os ativos militares mais importantes e estratégicos de uma força aérea. São verdadeiros postos de combustível voadores, capazes de transferir várias toneladas do precioso líquido para as mais diversas aeronaves, multiplicando seu alcance. 

Na década de 1970 a Força Aérea dos EUA (USAF) buscava um novo avião tanque através do programa Advanced Tanker-Cargo Aircraft (ATCA). Concorreram os Lockheed C-5 Galaxy e L-1011, o McDonnell Douglas DC-10 e o Boeing 747. Enquanto os dois concorrentes da Lockheed foram desclassificados, o Jumbo e o trijato seguiram na disputa.

O Boeing KC-747 durante testes de reabastecimento com o lendário SR-71 Blackbird.
O KC-747 durante testes de reabastecimento com o lendário SR-71 Blackbird.

Para demonstrar o produto a Boeing modificou um 747-100 com uma lança de reabastecimento em voo (REVO), compartimento de carga e novos tanques. Em resumo, KC-747 poderia transportar 200 mil libras de carga e 455 mil libras de combustível, 100 mil a mais que o KC-135 Stratotanker.

A fabricante ainda planejava uma série de melhorias no KC-747, como um receptáculo de REVO, portas de carga e atualizações na lança de reabastecimento. No entanto, o ‘Jumbo de REVO’ era simplesmente caro demais e seu tamanho limitava as bases e aeroportos que poderiam recebê-lo. A USAF acabou escolhendo o DC-10, que virou KC-10, que poderia ser adquirido em mais unidades. 

O último 747 de reabastecimento permanece em operação na Força Aérea do Irã. Na foto a aeronave é vista com três caças F-4 Phantom II e F-14 Tomcat. Foto via Reddit.
O último 747 de reabastecimento permanece em operação na Força Aérea do Irã. Na foto a aeronave é vista com três caças F-4 Phantom II e F-14 Tomcat. Foto via Reddit.

Porém, o KC-747 permanece vivo. Ainda durante o ATCA, o então Xá do Irã Reza Pahlavi encomendou dois 747 de REVO para a Força Aérea Iraniana, num momento em que o país passava por uma grande renovação nas forças armadas. Ele ainda desejava adquirir mais desses aviões, mas foi deposto pela revolução de 1979. A Força Aérea da República Islâmica do Irã seguiu operando as aeronaves. Um dos aviões foi perdido em um acidente, o outro permanece em serviço. 

Shuttle Carrier Aircraft

Quando se fala nos lendários Ônibus Espaciais, os Space Shuttle, é impossível não lembrar das imagens do também lendário 747 com uma dessas naves nas costas. Em 1977, com a introdução do Space Shuttle ao serviço, a Agência Espacial dos EUA (NASA) precisava transportar a nave espacial dos seus diversos locais de pouso para suas instalações de lançamento no Centro Especial Kennedy, no Cabo Canaveral, na Flórida.

O Boeing 747 N905NA Shuttle Carrier Aircraft (SCA) transportando o Ônibus Espacial Columbia em março de 2001. Foto: NASA.
O Boeing 747 N905NA Shuttle Carrier Aircraft (SCA) transportando o Ônibus Espacial Columbia em março de 2001. Foto: NASA.

A NASA então adquiriu um 747-100 da American Airlines, que estava tendo problemas com a aeronave. Matriculado N905NA, o jato foi o primeiro de dois Shuttle Carrier Aircraft (SCA), recebendo uma série de modificações estruturais e aerodinâmicas para se tornar apto a transportar os ônibus espaciais, cujo peso vazio era na ordem das 78 toneladas. 

Os assentos de primeira classe, no deque superior, permanecerem para uso das tripulações da NASA, enquanto as outras poltronas foram todas retiradas. Estruturas especiais foram instaladas na fuselagem para encaixar o Space Shuttle, com os mesmos “plugues” encontrados no enorme tanque laranja da nave. 

Os 747 SCA N905NA e 911NA voando juntos em 2011. Foto: Carla Thomas - NASA.
Os 747 SCA N905NA e 911NA voando juntos em 2011. Foto: Carla Thomas – NASA.

Com o peso e arrasto aerodinâmico da “carga especial”, o 747 perdia quase 2000 km de alcance, o que obrigava o SCA fazer diversas escalas nos voos carregando o ônibus espacial.

Em 1988 a agência adquiriu o segundo e último SCA, um Boeing 747SR-46 da JAL, matriculado N911NA. Ao longo dos anos as aeronaves cumpriram 76 missões de transporte dos ônibus espaciais, incluindo o Challenger e o Columbia que foram perdidos em acidentes. 

O N911NA mais novo foi aposentado em fevereiro de 2012 após 24 anos de operações pela NASA. Partes da aeronaves foram usadas no 747 SOFIA (Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy). Com o encerramento do programa dos ônibus espaciais, o N905NA remanescente foi usado para transportar as naves para seus destinos finais em museus. As duas aeronaves estão preservadas: o 905 em Houston, com uma maquete do ônibus espacial Independence, e o 911 em museu a céu aberto na Califórnia. 

SOFIA – Telescópio Voador

Outro Jumbo Jet especial da NASA foi o 747SP (Special Performance) usado no programa teuto-estadunidense Stratospheric Observatory for Infrared Astronomy, ou simplesmente SOFIA. Este 747SP especial fez recentemente seu último voo e era, em resumo, um enorme telescópio voador usado para pesquisas espaciais. 

O projeto era uma iniciativa da NASA com sua congênere alemã, a DLR (Deutsches Zentrum für Luft- und Raumfahrt), lançado em 1996, para desenvolver, construir e projetar um telescópio infravermelho aerotransportado, como sucessor do Observatório Aéreo Kuiper, também da NASA mas montado em um cargueiro C-141 Starlifter modificado. 

NASA Sofia Boeing 747SP
Foto: NASA

Os objetivos primários eram observar atmosferas planetárias e suas composições, obter dados físicos e químicos do meio interestelar, incluindo a formação de estrelas, e a formação e evolução dos cometas. Para isso, NASA e DLR criaram um telescópio refletor com 2,5 metros de comprimento, com um espelho parabólico primário de 2,7 metros. 

A aeronave escolhida foi um 747SP, uma versão 15 metros menor que os 747 tradicionais, desenvolvida pela Boeing nos anos 1970 para competir com os trijatos DC-10 e L-1011. Apesar do tamanho, o 747SP era mais rápido e tinha mais alcance, logicamente carregando menos passageiros. 

O 747SP do Programa SOFIA sobrevoando a cordilheira da Serra Nevada, na Califórnia. Telescópio voador ajudou a achar água na Lua. Foto: NASA.
O 747SP do Programa SOFIA sobrevoando a cordilheira da Serra Nevada, na Califórnia. Telescópio voador ajudou a achar água na Lua. Foto: NASA.

O jato selecionado para o programa SOFIA foi o de número de série 21441, entregue em 1977 à Pan American com o registro N536PA. Com a falência da Pan Am, o N536PA virou em 1986 o N145UA da United Airlines, que o operou até 1995 quando foi estocado em um aeroporto perto de Las Vegas. Em 1997 o jato foi adquirido para a missão espacial. 

O 747SP, o terceiro jumbo da agência espacial norte-americana, recebeu o registro N747NA, mas só fez seu primeiro voo no projeto SOFIA em 2010. Ao longo dos anos o 747 SOFIA participou de uma série de importantes marcos na pesquisa espacial. Em 2016 o telescópio voador detectou alótropos de oxigênio na atmosfera de Marte, a primeira vez que isso era observado em 40 anos. A aeronave também estava na missão que descobriu água na superfície lunar. 

Em abril a NASA e a DLR decidiram aposentar o exótico 747-telescópio. Um relatório das agências espaciais apontou que os resultados da produção científica não eram suficientes para justificar o alto custo operacional da aeronave. O SOFIA fez sua última missão em 28 de setembro de 2022 e seu último voo em 13 de dezembro. A aeronave será preservada no Pima Air & Space Museum, em Tucson, no Arizona.

E-4B Nightwatch – o 747 do fim do mundo

Avião do Fim do Mundo. O nome assusta, mas esse é o apelido dado a quatro Boeing 747 usados pela USAF em uma missão muito específica (e que ninguém jamais quer participar): comandar as forças armadas e o arsenal nuclear norte-americano em caso de um ataque nuclear. 

O E-4 Nightwatch, oficialmente chamado de Posto de Comando Aerotransportado Avançado (AACP), surgiu no final dos anos 1970 como E-4A. A aeronave é um Boeing 747-200 de passageiros, similar ao seu “colega” mais famoso, o VC-25 presidencial, mais conhecido por Air Force One.

O E-4B Nightwatch, um 747-200, será o Pentágono Voador no caso de uma guerra nuclear. Foto: USAF.E-4B Nightwatch USAF fim do mundo nuclear
O E-4B Nightwatch será o Pentágono Voador no caso de uma guerra nuclear. Foto: USAF.

Para cumprir a missão e se tornar o Nightwatch, o jumbo 747 foi amplamente modificado, recebendo uma série de instrumentos como rádios de diversos tipos com os mais variados alcances; datalink seguro, sistema de comunicação direta e via satélite, linhas telefônicas, uma enorme gama de computadores e demais equipamentos de processamento de dados.

O sistema de ar-condicionado foi equipado com filtros QBRN (Químico, Biológico, Radiológico e Nuclear). Além de receber equipamentos de contramedidas (chaffs e flares), o E-4B também é blindado contra pulsos eletromagnéticos.

Por dentro o jato foi dividido entre 8 seções principais, incluindo salas de descanso, comando e controle e o próprio cockpit. A tripulação completa de 112 militares é a maior em qualquer avião da USAF. 

Os E-4B são operados elo 1º Esquadrão de Controle de Comando Aerotransportado, na Base Aérea de Offutt. Baseados numa aeronave tão antiga e com uma missão tão específica, os E-4B estão entre os aviões com a hora de voo mais cara na USAF: US$ 160.000 por hora voada. 

Quer saber mais sobre o E-4 e outros aviões do juízo final? Confira esse artigo especial!

747 Supertanker – O avião-bombeiro

Todos os anos os Estados Unidos enfrentam a temporada de incêndios florestais, onde enormes porções de terra e florestas são destruídas pelas chamas. Os EUA contam com agências de bombeiros e proteção florestal espalhadas pelo país todo, especialmente na região oeste onde os incêndios costumam ser maiores. Essa agências operam aviões e helicópteros especializados no combate a incêndios, mas o maior de todos esses aviões foi justamente o 747. 

Em 2002 a Evergreen International, uma companhia de logística aérea, iniciou o projeto para converter dois 747 em aviões de combate a incêndio. Até então a maior aeronave do tipo era o trijato DC-10. A empresa investiu US$ 40 milhões em quatro anos para desenvolver e certificar o sistema de tanques pressurizados, que permitiu o Jumbo da Boeing se tornar o maior avião bombeiro de todos os tempos. 

Capaz de transportar e lançar quase 75 mil litros d'água ou retardante, o Boeing 747-400 Supertanker é o maior avião-bombeiro de todos os tempos.
Capaz de transportar e lançar quase 75 mil litros d’água ou retardante, o Boeing 747-400 Supertanker é o maior avião-bombeiro de todos os tempos.

Os tanques, instalados no compartimento de cargas da aeronave, comportavam quase 75 mil litros de água ou agente retardante. O líquido poderia ser despejado em oito passagens ou de uma só vez, por meio de quatro saídas na parte de baixa da fuselagem traseira. A aeronave era capaz de cobrir uma área de 4,8 km de comprimento por 46 metros de largura, voando baixo em configuração de pouso a uma velocidade de 250-270 km/h. 

O primeiro 747 bombeiro, um 747-200 de registro N470EV, nunca entrou em serviço. O segundo, um 747-100 mais antigo de matrícula N479EV, se tornou o primeiro 747 bombeiro operacional. A certificação da FAA foi recebida em 2006. Além dos incêndios florestais nos EUA, especialmente nos estados do Colorado e Califórnia, o 747 Supertanker atuou em operações no Chile, Bolívia e Israel. 

No entanto, a Evergreen acabou vindo falindo no final de 2013. O sistema de pressurização d’água foi adquirido por outra companhia, a Global SuperTanker Services, que instalou o conjunto num Boeing 747-400 maior. O jato, matrícula N744ST, recebeu o nome Spirit of John Muir, em homenagem a um dos maiores nomes do movimento conservacionista moderno. 

Em 2021 foi a vez da Global SuperTanker enfrentar graves problemas financeiros, fazendo a companhia cessar suas operações ainda naquele ano. O N744ST foi então vendido para a National Airlines, sendo convertido para um avião cargueiro. Recentemente a aeronave esteve no Brasil, trazendo um foguete espacial da Coreia do Sul. 

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias

Tags: Artigos, Boeing 747, Militar, NASA, news, SOFIA, usaexport