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Guerra na Ucrânia: porque aviões e helicópteros estão voando tão baixo

Mi-24 e Su-25 da Ucrânia em voo rasante

Nas redes sociais, imagens de aeronaves da Rússia e Ucrânia voando baixo tem sido vistos e compartilhados cada vez mais. Em um exemplo recente, um vídeo compartilhado pelo lado ucraniano mostra um helicóptero Mi-24 Hind voando a cinco metros de altura sobre uma estrada, muito próximo de carros e caminhões. Noutro caso que também viralizou, um piloto russo gravou sua própria ejeção, também enquanto voava baixo. 

Mas afinal, por que aeronaves dos dois lados estão voando tão baixo sobre o campo de batalha no leste europeu? 

A resposta está na enorme quantidade de mísseis antiaéreos de curto, médio e longo alcance, implantados tanto por russos quanto ucranianos. Os mísseis formam o chamado “guarda-chuva antiaéreo” que, dividido por camadas, oferece um risco enorme para as aeronaves e suas respectivas tripulações.

Os mísseis S-300 e S-400 Triumph – esse último operado apenas pela Rússia no teatro – negam o voo de grande altitude para os aviões, podendo atingir alvos a 150 km e acima dos 30 mil pés ou mais, dependendo do sistema, sua variante e condições na hora do engajamento. Enquanto Moscou dispõe de vários SAMs (surface to air missiles na sigla em inglês) de longo alcance mais novos, pouco se sabe sobre a condição dos S-300 ucranianos, incluindo a bateria que foi doada pela Eslováquia em abril. 

Mísseis antiaéreos de longo alcance S-300 da Ucrânia
Veículos lançadores do sistema S-300 do Exército da Ucrânia. Foto: Voidwanderer via Wikimedia.

Entramos então na camada de médio alcance, que inclui sistemas Tor, S-125, Buk, Hawk e demais modelos. A OTAN doou dois de seus SAMs de médio alcance mais modernos para a Ucrânia: o NASAMS, desenvolvido pelos EUA e Noruega, e o novo IRIS-T SLM alemão. Ambos usam mísseis originalmente desenvolvidos para uso de aviões, adaptados para lançadores terrestres.

Enquanto o NASAMS pode atacar alvos a distâncias de 20 km a 30 km, dependendo da versão, o IRIS-T pode engajar aviões a 40 km. Cabe destacar que o NASAMS também é o mesmo sistema usado para a defesa aérea da Casa Branca, Pentágono e demais instalações estratégicas norte-americanas. 

Sistema antiaéreo NASAMS disparando um míssil AMRAAM
Míssil AMRAAM disparado pelo NASAMS. Foto: Kongsberg/Divulgação

Agora passamos aos sistemas de curto alcance, como o Crotale, Pantsir, Tunguska, Strela, Stormer e os vários Mísseis Antiaéreos Portáteis (MANPADS), disparados por soldados. Estes são sistemas mais baratos, que atacam alvos aéreos até 15 km, aproximadamente. 

Além de sistemas móveis, a Rússia tem empregado os MANPADS Igla e Verba. Já a Ucrânia recebeu enormes quantidades de mísseis Stinger, Starstreak, Mistral e Piorum, além dos seus próprios estoques de Igla e o Strela mais antigo. 

Para fugir dos sistemas de médio e longo alcance, orientados por radar ou sistemas eletro-ópticos, pilotos russos e ucranianos estão empregando uma velha tática: voar baixo, muito baixo. O voo rasante mascara a aeronave contra o terreno, impedindo a detecção por radar até uma determinada distância. Um soldado também teria dificuldade para enxergar e engajar um avião ou helicóptero em baixa altura e alta velocidade em tempo hábil. 

No entanto, uma aeronave voando baixo e rápido está mais suscetível a acidentes, como colisões com pássaros e linhas de transmissão, como ocorreu com um jato Sukhoi Su-25 russo em junho. Dessa forma, a habilidade e reflexo dos tripulantes é fundamental para desviar de obstáculos e reagir a possíveis engajamentos. 

 

No caso dos helicópteros voando a 5 metros, 10 metros sobre uma estrada, o disparo de um MANPADS dá pouco tempo de reação e espaço de manobra ao piloto. Para os aviões, há diversos vídeos de jatos russos sendo alvejados por mísseis enquanto voam baixo. Outro problema é a dificuldade e o tempo curto para identificar e atacar um alvo terrestre com precisão.

Segundo o portal Oryx, que tem documentado as perdas de ambos os lados desde o início do conflito, a Rússia perdeu 63 aeronaves de asa fixa e 54 helicópteros. Já o país invadido perdeu 53 aviões e 21 helicópteros. Especialistas têm atribuído a maior parte desses abates aos sistemas antiaéreos (com destaque para os MANPADS), e não ao combate entre aviões. 

Ao mesmo tempo, os dois beligerantes se esforçam na tentativa de destruir radares e baterias antiaéreas. Em missões de Supressão de Defesa Aérea (SEAD), a Rússia tem usado caças com mísseis Kh-31. A Ucrânia, por outro lado, tomou um caminho no mínimo inesperado: integrou mísseis norte-americanos AGM-88 HARM aos seus MiG-29 e Su-27 de origem russa, algo que pode ser lido com mais detalhes nesta matéria. 

De qualquer forma, as camadas antiaéreas persistem dos dois lados, em maior ou menor grau. Enquanto o conflito perdurar, mais e mais vídeos de aeronaves em voo rasante deverão ser compartilhados nas redes. 

 

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Gabriel Centeno

Autor: Gabriel Centeno

Estudante de Jornalismo na UFRGS, spotter e entusiasta de aviação militar.

Categorias: Artigos, Militar, Notícias

Tags: Antiaérea, Guerra na Ucrânia, Rússia, Rasante, Ucrânia, usaexport